Devo ter sido cego, surdo e mudo!
O
Brasil grosseiro, ditatorial, cruel, ruim, insano que dizem ter existido pós-64, eu não conheci. Talvez por ter
trabalhado para fazê-lo cada dia melhor. Mas, lembro-me do pré-64, em que a
baderna imperava, o país estava economicamente parado por greves (existiam mesmo
as greves em solidariedade), com os governantes nacionais, popularescos, dando
gritos de ordem e insuflando a multidão, dizendo que tudo fariam com ou sem o
Congresso, enquanto outros, a eles
ligados, debochavam e menosprezavam, ostensivamente, as autoridades militares da Nação.
O
Brasil em que qualquer militar tripudiava sobre os civis, constrangia-os,
impunha-lhes atos ignominiosos não foi de meu conhecimento. Ao contrário, vi um
País onde era seguro viver em paz, pois a pouca vergonha dos aproveitadores de
ocasião tinha sido sustada. Houvera um verdadeiro choque de ordem, o único meio
de impedir que o Brasil se tornasse uma república sindicalista na qual o maior
princípio não era o combate à pobreza e à miséria, mas o ódio e a destruição
dos ricos.
O
Brasil de uma porção de generais ditadores a criarem leis que favorecessem seu
grupo oligárquico, a impedir a democracia e a meterem medo no povo, que os
odiava, deve ter sido outro Brasil, porque eu estava aqui e não o vi. Os
pretensos ditadores, estranhamente, revezavam-se a cada quatro anos, propostos
e eleitos pelo Congresso Nacional, o qual era eleito democraticamente. E,
note-se, o Vice sempre era um civil. Nunca houve um General-Presidente, pois,
respeitando a Lei Maior, para serem candidatos deviam solicitar a reforma.
Nunca aconteceu de algum presidente dessa época ‘militar’ vestir a farda de seu
antigo posto, pois o regulamento das Forças Armadas brasileiras não permite.
Isso de ‘estar protegido pela farda’ foi coisa do único e verdadeiro ditador no
Brasil, o Getúlio Vargas. Como é, ainda hoje, do Hugo Chavez e dos irmãos
Castro.
O
Brasil amordaçado, calado, amedrontado, com denúncias de vizinhança, inquieto,
sem direito à privacidade, com a correspondência censurada, também não vi, a
não ser durante os momentos de convulsão social ou de estado de guerra, se é
que houve. Não me recordo de ter sentido receio de ser morto a qualquer momento
por agentes da lei, que não tinham como missão atirar em outros cidadãos
pacíficos, embora houvesse uma tensão e ansiedade em ser vítima gratuita de
algum atentado terrorista, tanto em seus ataques aleatórios quanto nos assaltos
que faziam a bancos, em nome do povo, diziam eles...
No
Brasil que conheci, jamais fui incomodado, como cidadão, por falar mal, ou
criticar, fosse quem fosse. Nunca me prenderam. Sempre li o que quis, falei o
que pensava, e, adianto, nunca fui um ‘maria vai com as outras’. Nunca soube de
que aqueles presidentes roubassem ou suportassem a companhia de ladrões do
dinheiro público. Não me consta que os presidentes do regime militar se
locupletassem de mordomias e facilidades, a si ou aos familiares, enchessem as
‘burras’ de sua família de dinheiro do povo. E tinham o comando da força, vejam
só! Poderiam ter feito o que quisessem. Não havia quem os impedisse. No
entanto, não fizeram: tinham respeito pelas tradições democráticas do País. Muitos
haviam lutado por ele na Segunda Guerra, e não contra ele, como os pretensos ‘terroristas-democráticos’
fizeram. Aqueles que nunca nem mesmo propuseram o retorno do Jango à
presidência. Queriam o quê, então?
Só
sei que sinto uma enorme falta de um país em que se podia levantar de manhã e
ir trabalhar sabendo que se contribuía para gerações futuras que nem se iria
conhecer. Sem ódios, sem rancores, sem preconceitos artificialmente
construídos.
Devo
ter sido cego, mudo e surdo, ou algum tipo perfeito de tonto! Devo estar
pagando por isso, agora! Nada mais justo!
(Este texto foi escrito em 2010, para ser publicado na revista do Instituto Milênio e foi censurado por eles por fazer apologia do regime militar, do ponto de vista do Conselho Editorial. Por estas e outras que estamos onde nos encontramos hoje!)
Faço minhas as suas palavras... não mexo em nenhuma vírgula. Parabéns!
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