domingo, 16 de novembro de 2014


O PERIGO DE ESTARMOS DESATENTOS NA DEMOCRACIA

O problema inerente a escândalos enormes como o Petrolão é o de gerar expectativas positivas de que a crise será resolvida com a punição exemplar dos culpados.

Até poderia ser, em outro país mais sério, com uma classe política menos debochada, com um povo mais fiscalizador e intolerante com os excessos. Digamos Suécia, Estados Unidos, Holanda, Inglaterra, Alemanha e outros de mesmo quilate e cultura política.

Deveria ser uma vergonha para nós a frase usual de que “no país tal, isto não seria possível...”; mas não é! Apresentamos certo nível de torpor ético, de hipnose moral, e ficamos como que catalépticos, amortecidos e sem ação. Paradoxalmente, o que nos outros países nos encanta e desperta a “boa” inveja, aqui para nós é uma impossibilidade de tão difícil solução como ir tomar o café da manhã em Marte.

Talvez seja por isso que nos deixamos contaminar pela chance de que outras pessoas resolvam a questão para nós, e pela alegre esperança de que tenhamos um dia de “Estados Unidos da América”. E a esperança não é insana, pois se podemos ter frequentemente dias cubanos e bolivarianos, por que não seria possível um dia com democracia plena? A questão é que nem esses dias de esquerda senil e ensandecida são feito por nós... e sim pelos outros, os que detêm o poder e possuem a firme convicção do que querem fazer, lado ao lado com a certeza de que o povo brasileiro não reage de moto próprio. O povo não tem motor de arranque! E eles sabem disso!

Mas voltemos ao tema inicial. A vida de uma nação, de um povo, pode ser comparada a um jogo de xadrez, e, concomitantemente, segue os preceitos básicos que regem o desafio mental da movimentação das peças. É deste jogo que nasceu a máxima que a defesa é o melhor ataque. Isto é, a atenção ao que se desenrola no tabuleiro é vital.  Um jogador desatento, fascinado pelo sucesso inexorável de seus próximos lances pode de um momento para outro receber o xeque-mate. É justamente aí que reside o perigo. Esquecer ou considerar vencido o adversário, como se este não tivesse mais jogadas, na quase infindável quantidade de opções de um embate enxadrístico.

Por mais seguras que estejam as coisas, por mais indefensáveis que se apresentem, jamais se esqueça de que o outro também está jogando, buscando se defender e levar o jogo a um resultado favorável a ele.

O adversário está fazendo de tudo – licitamente ou não – para vencer o jogo, ou melhor, para não perder, pois é um jogo tão decisivo que não haverá revanche, ganhe quem ganhar,

Ele sabe, mais do que ninguém, que seu caso é perdido em condições normais de temperatura e pressão. Ganhar em seu caso depende de sua capacidade de mudar as condições ambientes ou em destruir o tabuleiro, o que é a especialidade deles. É mais factível realizar o segundo do que alcançar o primeiro.

Se fizermos um rápido balanço de forças veremos que ele dispõe de poderosos instrumentos que podem ser usados institucionalmente, como organismos estatais aparelhados, consciências políticas compráveis, magistrados parciais, dinheiro aos borbotões, falta de caráter e pendores comportamentais malévolos, e outros que tais, a permitirem que ele alcance seus objetivos de bolivarização do país antes que as causas judiciárias que lhe são adversas sejam julgadas.

Ele está pensando em mover as peças com rapidez tal que impeça as jogadas da justiça tornando o país uma cubazuela, com todos os seus desmandos e atentados contra as liberdades individuais, antes que outras forças sejam chamadas a agir em caso de necessidade.

É claro que isto só pode acontecer em um Estado onde seus constituintes – o povo – abra mão de sua soberania e de seu poder maior de polícia, pois a lei nada mais é do que a vontade dele, como no Brasil. Isto não acontece em país onde o povo sabe que o Estado lhe pertence, e que ele somente delega a um mandatário a sua gerência e administração, cuidadosamente observada por ele através das câmaras legislativas, a parte sua que analisa e julga se tudo está correto, constitucionalissimamente falando, sendo possível repita-se, entretanto, naqueles em que o presidente toma para si a soberania do povo agindo absolutamente como um soberano majestático sem prestar contas de si a ninguém e não sendo responsável pelos seus atos de mando.

Enfim, estamos falando da verdadeira diferença entre uma democracia e uma não-democracia ao falar de conteúdo e não simplesmente de forma. É o grande e inexorável hiato que separa o Brasil, de democracia claudicante e insegura, e os Estados Unidos da América, em que jamais o presidente achar-se-á dono do país.

 

 

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