segunda-feira, 10 de maio de 2010

Lula se transformou no ‘idiota útil’ do Irã?”

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Editorial do The Washington Post, pelo colunista político Jackson Diehl, intitulado “Lula se transformou no ‘idiota útil’ do Irã?”)

Estará o presidente brasileiro, Luiz Inácio "Lula" da Silva tornando-se o idiota útil do Irã?

Mahmoud Ahmadinejad claramente pensa assim. Na quarta-feira seu site postou um comunicado afirmando que ele aceitou "em princípio" uma proposta brasileira para neutralizar o suposto impasse do Irã com o Conselho de Segurança da ONU - que impede a adoção das novas sanções pressionadas pelos Estados Unidos, Grã-Bretanha e França.

O Itamaraty, às pressas, negou que houvesse uma proposta concreta. Mas isso é irrelevante: Lula, que está planejando uma viagem a Teerã na próxima semana, está, obviamente, procurando colocar-se como o mediador que poderia concertar um acordo entre o Irã e o Ocidente.

Seu gesto seria tão irrelevante quanto a sua recente tentativa de resolver o conflito israelita-palestino - exceto pelo fato de que o Brasil detém um dos assentos rotativos no Conselho de Segurança. Como a Turquia, outro membro temporário, o Brasil está resistindo bravamente à iniciativa de novas sanções, que é uma razão pela qual a medida não foi aprovada no mês passado, como esperava a administração Obama.

Em outras palavras, Lula está proporcionando ao Irã um o tempo valioso na demora da aplicação das sanções, ao mesmo tempo que segue com o enriquecimento de urânio e prepara uma nova geração de centrífugas para fazê-lo mais eficiente.

A "proposta" brasileira parece corresponder a uma outra versão do acordo que o Irã já rejeitou várias vezes: uma troca de parte do material nuclear já enriquecido por barras de combustível que possam ser usadas para reabastecer um reactor de investigação médica. Teerã apareceu inicialmente aceitar a oferta ocidental ao longo destas linhas no outono passado, mas depois recuou. Desde então, tem empenhado-se a discutir diversas variações sobre o negócio - a maioria das quais buscando neutralizar o principal ponto de negociação do ponto de vista do Ocidente, que é a remoção de material nuclear do Irã.

A intenção manifesta de Ahmadinejad é discutir a proposta com Lula o maior tempo possível - sem concordar jamais, é claro. "A proposta não tem muitos detalhes", disse o chefe de gabinete de Ahmadinejad, na quarta-feira.

A Turquia já jogou este mesmo jogo com o Irã durante meses, sem resultados. Então, por que Lula quer se atirar a isto? Pela mesma razão do primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan: provar que o seu país é uma potência mundial emergente que é capaz de agir de forma independente - e desafiando os Estados Unidos. Não interessa ao Lula que a diplomacia não tenha chance de sucesso. O que importa são os serviços de notícias descrevendo o Brasil como "uma potência mundial emergente" e Lula como um dos líderes mais influentes do globo.

O preço para essa diplomacia da vaidade é o atraso contínuo de sanções que poderia ser a última chance de interromper, de forma pacífica, os esforços do Irã para construir uma arma nuclear. Os Estados Unidos parecem impotentes; Ahmadinejad e seus companheiros da Guarda Revolucionária estão confiantes na crença de que eles não têm nada a temer do Ocidente. A tentativa do presidente Obama para restaurar o multilateralismo para o centro da diplomacia E.U.A. cai por terra.
Mas haverá quaisquer consequências para o Lula? O presidente brasileiro provavelmente não se importa muito que o Irã adquira ou não armas nucleares - afinal, ele está em seu último ano de mandato, e o Irã não representa qualquer ameaça para o Brasil. Nem a administração Obama parece inclinada a punir o líder brasileiro, a quem Obama recentemente chamado de "o meu cara". O Departamento de Estado disse esta semana que o governo está "cada vez mais céptico" de que o Irã vá mudar seu curso, e que "ainda exista uma diferença de opinião com o Brasil", de onde estamos nesse processo.

No entanto, "nós reconhecemos o valor e a importância de uma variedade de países envolverem-se com o  o Irã", disse porta-voz da Philip Crowley.

Em outras palavras: Lula, vá em frente e jogue para a platéia.
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