domingo, 9 de maio de 2010

Uma valente nordestina

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Homenageio as mães brasileiras nesse momento em que a Pátria espera ansiosa sua salvação, na pessoa de uma mulher valente como só as mulheres sabem ser.
Seu nome é Maria Francisca da Conceição, nascida em Pajeú das Flores, Pernambuco - terra de gente valente. Casou-se aos 13 anos com um cabo de esquadra. Em princípios de 1866, ele partiu para a Guerra contra Solano Lopez, incluído no Corpo de Pontoneiros, incorporado ao 2o Corpo de Exército, comandado pelo Conde de Porto Alegre.
Ela seguiu junto com o marido. Quando a tropa embarcou para o ataque de Curuzú, foi severamente proibido seguirem junto as mulheres casadas, que deviam aguardar seus maridos no acampamento. Maria da Conceição logo arranjou um ardil para seguir o marido, pois seu amor por ele era infinito, uma paixão sem limites. Foram infrutíferos os rogos do companheiro. Disfarçou o sexo, cortou o cabelo, arrumou um boné, ajeitou uma farda emprestada e ei-la entre a soldadama, sem que ninguém se desse conta de que naquele rosto imberbe ocultava-se mais uma heroína brasileira, determinada a lutar e morrer em defesa da pátria.
Ninguém percebeu o disfarce. O batalhão engaja-se no combate. Do primeiro ferido caído pega as armas: a carabina,cartucheira e demais pertences do soldado em guerra.
As tropas avançam. Artilharia ruge. As armas portáteis crepitam. O chão vai se juncando de cadáveres, mas nada detêm a fúria dos brasileiros que tomam de assalto o Forte com todo seu armamento.
Na ferocidade da luta, uma bala pega em cheio a testa do marido de Maria, prostrando-o sem vida. Ela enxuga as lágrimas, segura o pranto e jura vingança, agarrada ao corpo inerte do homem amado. E tomada por um sentimento de vidita épica, vai abatendo cada paraguaio que se aproxima, um, mais outro e mais outro. depois da vitória, foi sepultar o marido, quando repete o juramento.
A 22 de setembro, chegava a vez de Curupaití. A viuvinha toma lugar entre os primeiros que conseguem penetrar no fortificado baluarte inimigo. São repelidos. Ela luta. Na ânsia de matar, avança. Um paraguaio de espada em punho vem sobre ela. Cruzam-se os ferros brancos. É atingida na cabeça e tomba. Os companheiros a salvam da gana selvagem do inimigo ensandecido.
Só no hospital de sangue foram identificar-lhe o sexo. Estupefação geral. Suas proezas de intrepidez indômita haviam despertado em todos um sentimento de admiração, estima e respeito. Agora pasmo!
Passaram a chamá-la Maria Curupaití. Dali para diante tornou-se até venerada. Era moça e bonita.
Na segunda batalha de Tuiutí, a três de novembro de 1867, lá estava Maria da Conceição, fazendo parte do 42o Corpo de Voluntários da Pátria. O combate, naquela guerra de horror, contra um inimigo que atacou de surpresa, mais numeroso em forças, tornou-se um entrevero de crueldade horrenda. Maria está entre os bravos e luta com uma coragem que causa espanto. A sorte a protege. Seu exemplo arrebata os soldados. E com um sorriso nos lábios, que nessas horas só as heroínas podem ter, conclama os companheiros de batalha, gritando: "Aqui está Maria Curupaití! Avante, brasileiros!"
O Coronel Pimentel, que descreve as façanhas dessa extraordinária mulher, diz no final de sua narrativa:
"É duro confessar! Essa heroína pernambucana reside no Rio de Janeiro [em 1877], à míngua de recursos. É ainda viúve e está alquebrada.
Vive de recordações gloriosas".
Maria Curupaití, que mulher admirável no amor pela Pátria!
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Adaptado de Tempos Bárbaros, de Osório Santana Figueiredo.

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