sexta-feira, 7 de maio de 2010

Votação 'livre' em Cuba

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Um longo caminho me levou de ser uma pequena pioneira guardando as urnas para os adulto, com vários anos de abstenção em suas costas. Minha irmã e eu íamos com uniformes de nossa escola no domingo para fazer a saudação marcial cada vez que alguém colocava o seu voto na urna. Lembro-me de pelo menos três razões para participar nas eleições: ainda acreditava que o poder do povo era poder, não era possível dizer "não" se a professora, com toda a sua autoridade convocava-me-nos, e também porque se dividia naqueles dias uma pão de queijo delicioso. Eu não perdia um, é verdade, porque também nos davam algumas frutas - em sacos parafinados -, que era impossível provar de outro modo, no meio de tanto racionamento.


Com o advento dos anos noventa, muitas dessas crianças que guardavam as eleições, passaram a ser jovens que anulavam as cédulas com frases e sinais de exclamação. Eu me lembro da primeira vez que fui a uma cabine de madeira e estava pronta  para rabiscar o pedaço de papel que nos haviam dado para o chamado "voto de todos". Uma vizinha me avisou que se eu não pretendesse em escrever um slogan, em vez de fazer uma simples cruz junto com os nomes, os nomes, porque cada voto tinha um número de identificação. "Eles vão saber que foi você", disse ela e contou histórias sobre pessoas repreendidas por fazer algo semelhante. Mas há certos momentos na vida que não importa qualquer reprimenda ou punição.

Mais tarde, ao repassar o número de amigos e parentes que haviam anulado suas cédulas, ele não correspondia, proporcionalmente, aos valores apresentados na TV. Ou aqueles que alegaram ter feito um rabisco ao invés de dar o seu consentimento mentiram, ou as estatísticas oficiais não correspondem à realidade. de maneira que passei à segunda fase do cansaço, a daquele que já não confia integralmente no processo de seleção de um candidato para o Poder Popular. Então, agora, fico em casa todo o domingo, nas eleições. Eu não sei se ainda repartem pão com queijo para as crianças que vigiam as urnas, mas sei que continuam a bater nas portas dos que se omitem, pedindo-lhes para irem ao local de votação. Talvez - se tudo continua igual - alguns deles farão 16 anos e pegarão da caneta vermelha para rabiscar o seu voto ou usar - que nem eu - a abstenção como uma forma de protesto.
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(Extraído do blog Generación Y, da corajosa Yoanni Sánchez, moradora em Havana, Cuba)

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