[Transcrito e traduzido do blog Generación Y, editado bravamente por Yoani Sanchéz, uma valente cidadã cubana, residente na cidade de Havana, Cuba]
Estão vindo tempos difíceis. Sou otimista a longo prazo, mas sinto mal-estar ante os anos que se avizinham. Há um raiva acumulada muito grande. Inocularam sistematicamente entre nós o repúdio à opinião diferente e isto não se apaga em pouco tempo. Ontem, quando vi uma dona-de-casa gritando em tom vulgar "a gusanada* está revoltada" - referindo-se à passeata das "Damas de Blanco"** - constatei quão longo é o caminho da tolerância que se estende à nossa frente. Aprender a debater sem ofender, a conviver com a pluralidade e a respeitar as diferenças, terá que se contituir em disciplina obrigatória em nossas escolas. Será um longo processo fazer entender a todos que a diversidade não é uma enfermidade, mas um alívio..
Temo que o grito tenha tornado-se crônico para nós e que a bofetada continue sendo a via mais rápida para calar a outrem. Estremeço ao pressagiar uma Cuba onde se continuua atacando física e legalmente alguém por sua filiação política ou sua tendência ideológica. Que triste país teremos se para as autoridades segue parecendo natural castigar àqueles que contradizem a opinião oficial. Já me faz bastante doente uma sociedade que assiste passiva à violência que sofreram ontem umas mulheres pacíficas com gladíolos em suas mãos. Porém, o sectarismo não parou alí, mas tentaram justificá-lo e para tanto prepararam às pressas um roteiro para o programa mais tedioso da televisão cubana: a Mesa Redonda. No entanto, os telespectadores - depois de duas horas de estóica escuta - confirmaram que a ausência de argumentos deu lugar somente ao insulto, a difamação e à engôdos verbais.
Por que não se pensa em convidar, para esses aborrecidos quadros onde se faz um monólogo a cada tarde, ao menos a um par de pessoas que pensam diferente? O mais tímido e moderado dos inconformados que conheço os desnudaria com um par de perguntas e com algumas breves frases faria tombar a teoria da conspiração deles. Não se atrévem, porém. Amparados pelo poder - não há pior aliado para um jornalista - sustentados seus verbos e suas penas com as sinecuras e os privilégios, sabem que não suportariam a artilharia da crítica. E, por isso, elogiam o golpe, agitam os lemas e põem uns vídeos editados para provar que se tem de destruir ao diferente. Alimentam o fanatismo, esse germe que ameaça prolongar-se mais além do que suas próprias vidas: o legado de ódios e de desconfiança que pretende deixar-nos este sistema.
* = verme: nome pejorativo com que chamam aos dissidentes políticos do regime cubano.
** = Damas de Branco: mães, esposas e filhas de presos políticos cubanos por "crime de consciência".
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Concordo professor Spencer. Mas para nossa infelicidade isso não é próprio de Cuba. Numa escala diferenciada é tipico da acadêmia também: podre! Não se posiciona, exclui o diferente. Querem o igual, usam todos a mesma marca de panela (quando muito variam o modelo).
ResponderExcluirNo sentido do que disseste, tem um cliche que parece que não é cliche, pois não compreenderam ainda, o diferente, na verdade, é o normal.